Uma breve história dos Ethos Produtivo e Civilizacional e de seus conflitos

 

O advento do capitalismo industrial consolidou a mudança de paradigmas nas sociedades modernas. A Primeira e a Segunda Revoluções Industriais, com suas inovações tecnológicas, transformaram as relações interpessoais e de trabalho, modificando a mentalidade da época.

Em meio aos avanços da ciência e da técnica no século XIX, houve uma reiteração do cartesianismo aliado a uma valorização da visão de mundo mecanicista e a um aumento da credibilidade dada ao darwinismo biológico/social e ao cientificismo. Em consonância, esses elementos contribuíram para a soberania do Ethos produtivo.

Particularizado pela sociedade ocidental há, pelo menos, um século, a corrente “produtiva” caracteriza-se por uma supervalorização do saber científico, da produtividade e da cultura globalizada como um todo. Ademais, há o maniqueísmo entre o que pertence ao global e do que é composto o local, atrelado à tendência de este ser menosprezado pela superiorização daquele. Tal como se consolidou, o Ethos Produtivo foi fundamental para o desenvolvimento das ciências e do conhecimento até o século XX, mas encontra-se desgastado no sentido de corresponder a expectativas e a  necessidades singulares da Era da Liquidez.

Apesar de sua importância histórica, o Ethos Produtivo já não é capaz de atender às demandas do mundo contemporâneo. Hoje, em meio a um mundo conectado e informatizado, herdeiro do Paradigma Cartesiano em vigor, poucos são os que se beneficiam e/ou conseguem viver dignamente na Pós-Modernidade. Excluídos desse processo de ascensão, os demais indivíduos permanecem marginalizados e reduzidos à impossibilidade de desfrutar dos avanços do capitalismo globalizado sem perspectiva de compô-lo. O Ethos Produtivo trabalha com a monocultura dos rigores, dos conhecimentos e das classificações sociais. Operando sob a lógica do terceiro excluído, esta corrente filosófica reitera a individualização e despreza a organização sistêmica na contemporaneidade. Em virtude disso, faz-se necessária a elaboração de um novo Ethos, mais voltado para a valorização da diversidade, dos saberes alternativos e dos relacionamentos humanos representados, inclusive, pelo livre fluxo de pessoas. Construir-se-ia um inédito caráter identitário, em que o todo é mais que a soma das partes, por estas serem um reflexo da organização coletiva.

O Ethos Civilizacional prima pelo reconhecimento das pluralidades das populações. Através da ecologia profunda, ele opera sob a lógica da desmaterialização de ideiais políticos e econômicos correlacionado à abordagem sistêmica e organicista das diversas realidades existentes.

Vale ressaltar que, apesar dessas teorias existirem a certo tempo, somente hoje, com o agravamento das desigualdades e problemáticas sociais devido a uma maior interligação mundial, e no rastro disso ondas de intolerância e ódio, a urgência dessa mudança ficou evidente. É inegável a importância do Ethos produtivo para o desenvolvimento cientifico e para a globalização como um todo, mas é imprescindível perceber que ele não corresponde às dinâmicas de uma sociedade verdadeiramente sustentável.